Memória Estação do Drama – Primeiros passos

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Foi lançado em manhã produtiva o Programa de formação de roteiristas Estação do Drama. O evento de lançamento movimentou a manhã do dia 26 de julho no auditório da Facom. O público lotou o espaço para presenciar a apresentação do programa, que contará com cursos, oficinas, palestras e debates sobre criação e produção de roteiros para TV e Web.

Os professores Maria Carmem Jacob de Souza e Rodrigo Lessa apresentaram o projeto, explicando o que motivou o grupo A-Tevê, coordenado pela professora, a tomar essa iniciativa, quais as expectativas e os cursos ofertados para esse primeiro momento que está sendo batizado de “primeira temporada”.

A ideia é de que a cada semestre novas atividades sejam ofertadas, retornando a depender da demanda, para manter uma oferta constante de cursos e oficinas na área. A iniciativa do grupo foi bem recebida por estudantes e profissionais da área que demonstraram interesse nas atividades a serem desenvolvidas, já tendo mais de 40 pré-inscritos nos cursos que estão sendo ofertados nessa “primeira temporada” de setembro a dezembro de 2014.

Logo depois, o público acompanhou a mesa de discussão sobre o mercado de roteiristas que se demonstrou bastante produtiva e com temas relevantes para a compreensão do mercado em que estamos inseridos, as leis em voga e o edital do Irdeb, recém-aberto. Mediada pela professora e roteirista Amanda Aouad, a discussão contou com a presença da CEO da Lima Comunicação, Vânia Lima, do cineasta Henrique Dantas e da roteirista e representante regional da Associação de Roteiristas – AR, Iara Sydenstricker.

A experiência e visão distinta dos três convidados enriqueceu a discussão com um debate amplo, caloroso e produtivo. As principais discussões giraram em torno das tensões entre roteiristas, produtores e televisões. Vânia Lima e Iara Sydenstricker defendiam, cada uma, sua classe, mas demonstraram que é fundamental o diálogo e o acordo prévio para que não haja problemas futuros. “Um roteirista não deve iniciar um trabalho sem um contrato. É importante entender seus direitos e protegê-los”, defendeu Iara.

Já Vânia lembrou que é importante esclarecer a diferença entre direito autoral e direito patrimonial. “O direito autoral é do roteirista, ninguém pode tirar, mas o direito patrimonial depende do contrato. Se uma produtora contrata um roteirista para um trabalho específico, ela é a dona da obra final que é uma obra audiovisual, não apenas um roteiro”.

Em uma estrutura mais independente, Henrique Dantas também trouxe questionamentos importantes, inclusive para mostrar um caminho do meio. Dono de sua própria produtora, onde também é roteirista e diretor de seus projetos, ele fala da liberdade artística que a televisão cerceia. “Não quero ter patrão, quero poder experimentar livremente, mas acho importante esse diálogo”. Para o cineasta, tudo é questão de opção. Atualmente, ele está trabalhando em um projeto de série derivado do seu curta, “A Bicicleta do Vovô” e aprendeu a buscar parcerias, esteve no último RioContent Market e trabalha junto com o roteirista Paulo Fernandes nos projetos.

O recente edital do Irdeb também foi tema de discussão na mesa. Todos reconhecem o esforço do órgão de aproveitar o projeto Brasil de Todas as Telas e que iniciativas como essa só fortalecem o mercado e incentivam as produtoras a se organizarem. Mas, é preciso observar as falhas e discutir pontos, como a exigência de ter todos os roteiros escritos ainda para a inscrição. “Vão ser roteiros estéreis”, afirma Iara. “Um roteiro precisa ser trabalhado, compreendido junto à equipe, não dá para ser assim”.

Henrique Dantas concordou e ainda ressaltou “O correto seria fazer um argumento, construir uma ideia de série e, uma vez ganhando, chamar uma equipe para desenvolver todos os episódios”. Mesmo Vânia Lima ficou do lado dos roteiristas, considerando que o edital será apenas para projetos que já estiverem prontos. A polêmica maior ficou por conta da proponência. Quando a mediadora levantou a questão de ter como exigência uma pessoa jurídica nessa primeira etapa, Vânia Lima se manifestou em favor da classe, considerando ser a forma de profissionalizar o mercado. Já Henrique Dantas e Iara Sydenstricker concordaram que colocar o roteirista como proponente de uma primeira etapa (a exemplo de como foi o AnimaTV e o FicTV) abre espaço para o surgimento de novas ideias e novos roteiristas que não possam ter acesso à produtoras. E após essa primeira seleção, eles teriam a obrigação de apresentar uma produtora parceira para continuar o processo.

A sugestão levantada é devido à percepção de que a maior dificuldade dos roteiristas iniciantes é de encontrar espaço entre as produtoras. Desde que a lei da TV Paga (lei 12.485/2011) entrou em vigor, é comum ouvir de que “faltam roteiristas no mercado”. A própria Vânia Lima relatou em sua fala inicial a dificuldade que teve em encontrar roteiristas para sua produtora.

É preciso estabelecer diálogos para que produtivas parcerias surjam. Neste intuito, Vânia Lima declarou que a Lima Comunicação está aberta ao Estação do Drama, podendo, inclusive, conversar sobre a viabilização de produtos originários das oficinas do projeto. O que só reforça um desejo do grupo de ser mais do que uma oferta constante de cursos e oficinas para roteiristas, mas também em ser um espaço de discussões e trabalhos que possam ligar a academia ao mercado, fortalecendo o audiovisual baiano. O primeiro passo já foi dado. Agora é aguardar as próximas temporadas.   Estação do Drama é um projeto do Programa de Pós Graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas (PÓSCOM) da Faculdade de Comunicação da UFBA com financiamento da Pró-Reitoria de Extensão da Universidade.

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